sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A ORIGEM DO MUNDO 

Nzambi criou o mundo e tudo que nele existe, criou também uma mulher para ser sua esposa e para que por seu intermédio, pudesse ter descendência humana a fim de que esta povoasse a terra e dominasse todos os animais selvagens por ele criado. Ela se chamaria então Ná Kalunga, em virtude da filha que iria dar a luz se chamar kalunga. Quando Kalunga atingiu a puberdade, Nzambi decidiu sair para mostrar a Kalunga tudo que tinha criado e após 3 meses retornaria.

Na viagem logo ao anoitecer Nzambi construiu uma Kubata (Palhoça) com apenas uma cama, se recusando a dormir com o pai, Kalunga corre chorando. Nzambi para convence-la a manda voltar para não ser devorada pelas feras. Voltou então e dormiu com seu pai toda viagem. Quando retornaram Ná Kalunga viu que sua filha estava grávida, enrraivecida com o fato se enforcou em uma arvore perante Nzambi e Kalunga. Ela não compreendeu os desígnios para povoar o mundo que ele tinha criado então se transformou num espirito maligno a quem ele deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na terra). Nzambi passou a viver com Kalunga que passou a se chamar também Ndala Karitanga e com isso a segunda divindade.

Um dia Ndala Karitanga passou a sonhar com sua mãe à insultando, dizendo que iria devora-la. Nzambi a tranquilizou dizendo que aquela que foi sua mãe agora era um espirito mau que estava apenas pedindo comida. Nzambi fez um montículo de terra na porta da Kubata e pediu para Ndala Karitanga buscar um animal para o sacrifício e para que a mesma disse-se ao mesmo tempo, minha mãe acabo de vir chorar-te, agora não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, vou prender-te (Mama é Nzanga kudila ni malamba kindala kana uiza kukala ni kuami akamúkua,nda o kudila o kujibisa), com o tempo Kalunga ou Ndala Karitanga deu a luz a Nkuku-a-Lunga (inteligente), passando este a ser a terceira pessoa da trindade divina.Quando cresceu Nzambi lhe deu o poder da adivinhação, Nzambi ordenou que casa-se com Kalunga (para se tornar pai de todas as tribos bantu) e concebeu 2 filhos primeiro masculino Sá Mufu segundo feminino Ná Mufu. Nzambi ordenou que Sá mufu casa-se com sua mãe e Ná mufu com seu pai informando-os que depois daquelas uniões as seguintes se fizessem só entre primos. Destas uniões nasceram do sexo Masculino-Kitembu-a-Banganga, Ndundu, Ngonga Umbanda, Kanongena, Kambuji e outros. Do sexo feminino- Mujumbu,Ndumba ia tembu, Samba Kalunga, Kasai, Lueji,Mukita e outras. Nzambi os ensinou a se multiplicar e a lutar contra doenças e feitiços que os seus descendentes viessem a possuir. Após deixarem a vida terrena cada um dentro da sua atribuição iriam supervisionar o mundo que ele havia criado. Nzambi se despediu e levando um cão que sempre o acompanhava, se dirigiu para Sanzala Kasembe Diá Nazambi (Aldeia encantada de deus ) onde recompensa os bons e castiga os maus. Naquela altura as rochas estavam moles por terem sido feitas recentemente, e até hoje no nordeste de angola se pode ver as pegadas na rocha de Nzambi e ao lado do seu cão. ( segundo a tradição existem pegadas por toda a África), comprovação feita pela seção de arqueologia e pré história do museu de Dundo- Angola ( Que são originais e não forjadas pelo homem ). Segundo as tradições a morada de Nzambi fica entre os rios (Luembe e Kasai) junto a nascente do Mbanze.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

LENDA DE OXOSSE (KABILA)




Diz uma das lendas que certo  dia Kabila chegou a sua aldeia,  quase arriando pelo peso da capanga,  das cabaças vazias e pelo cansaço de rastrear a caça rara. 

N'dandalunda, sua mulher e mãe de seu filho, olhou para ele e pensou: 

''só caçou desgraça". Pois a desgraça para Osóssi foi prevista por Ifá,  que ele alertou Osún. Porém,  quando ela contou a Osóssi sobre essa previsão,  ele disse que a desgraça era a fome,  a mulher sem leite e a criança sem carinho. 

E que desgraça maior era o medo do homem. 

Quando Kabila se aproximou de N'Dandalunda,  ela notou que ele trazia algo na capanga, sentiu medo e alegria. Havia caça na capanga do marido  e ela imaginou se seria um bicho de pelo ou de pena. 

Ansiosa, perguntou a ele, que respondeu: 

"Trago a carne que rasteja na terra e na água, na mata e no rio,  o bicho que se enrosca em si mesmo''. 

Falando isto retirou da capanga os pedaços de uma grande Edimi (cobra). 

O bicho revirava a cabeça e os olhos,  agitava a língua partida e cantava triste: "Não sou bicho de  pena para Osóssi matar". 

A grande Edimi pertencia a N'zazi e Kabila não poderia matá-la. 

N'dandalunda fugiu temendo a vingança de N'zazi, indo até Ifá que disse: 

"A justiça será feita, assim o corpo de Kabila irá desaparecer,  desaparecerá da memória de Hongolo e a quizila desaparecerá da vingança de N'Zazi".

Esses Nkisis se assemelham a Oxóssi (Odé) para os praticantes de candomblé Ketu.

Kabila – O caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.

Mutalambô, Lambaranguange – Caçador, vive em florestas e montanhas, nkisi de comida abundante.

Mutakalambô – Tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores.

Mutalambô ou Lambaranguange é um Nkisi caçador, que vive em florestas e montanhas, é o Nkisi da fartura e comida abundante, assim como Kabila. Na Mitologia Bantu – Tat’etu Mutakalambô ou Mutakulamburungunzo (o mais velho) – O Caçador divino. Todos os povos antigos tinham o seu caçador e defensor divino que era responsável pela fartura e pela defesa da aldeia.  Cada povo lhe entendeu de um jeito e lhe representou na sua cultura e na sua língua, mas faz parte do inconsciente coletivo de tempos imemoráveis. Também andam neste caminho Nkongobila/Telekompenso. Estes caçadores bantu para se identificarem com qualquer outro caçador mitológico não foi difícil. Ai entra o Oxossi, os Ọdés dos Yorubá e até os caçadores ancestrais brasileiros, como caboclos.

Informações:

Dia: Quinta-Feira

Cor: Verde ou Azul turqueza

Simbolo: Ofá

Dominio: Fartura e Matas

Saudação: Pembelé Mutalambò

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

A transformação é minha natureza

Esta manifestação divina trata da grande alquimia, transformação e transmutação de tudo que acontece no planeta, mais especificamente ligado à terra. Aqui tudo que nasce depende da terra para viver e mesmo depois, é na terra que acontece a transformação enquanto a vida continua inalterada. Por tudo isso está ligado às doenças e epidemias, além de possuir o poder de levá-las, deixando a saúde em seu lugar.
Apesar de ser conhecido e representado como velho, na verdade retrata a inquietude e a impaciência com a acomodação. Mas claro, sempre se revela cauteloso e discreto. Não tolera as coisas estáticas, pois é necessário transformar constantemente e está em eterno movimento. Não se pode esquecer, porém, do seu carácter vingativo e às vezes inconsequente, quando sua vontade não é atendida. Por isso, todos os anos lhe é oferecido um grande balaio colectivo onde suas comidas predilectas são ali incluídas (pipoca e feijão preto com muito dendê).
Nesta oportunidade, algumas casas, aproveitam para distribuir a alimentação para toda a comunidade. Alguns o tem como pobre e ligado à morte, quando na verdade ele é o Senhor da terra, que a todos mantém, a todos sustenta e tudo transforma em vida.

As kijilas que lhe são atribuídas historicamente no Brasil são tangerina, abacaxi e caranguejo (aranhola).


Suas saudações são: Kavungo mateba kukala kuíza (O pai da ráfia está chegando, eu te saúdo)! Kiuá Nsumbo! Pembelê Tat’etu Kikongo! Salve, eu de saúdo!


Seu dia é a segunda feira.



Suas cores variam do Preto e vermelho e branco ou branco e preto e ainda a rajada de terracota e preto. Também gosta de se adornar com contas feitas com argolas de chifres e muita palha.

Os filhos deste caminho demonstram compatibilidades com pessoas de Tat’etu Kabila, Mam’etu Kaia, Mam’etu Zumba ria ndá (Zumbarandá), Mam’etu Matamba e Tat’etu Lembaranganga.

Fonte : Tata Ngunz’tala publicado no Jornal Tribuna Afrobrasileira
Npambu Njila 



A palavra Mpumbu significa território, ou seja, é um território no Reino do Kongo.

Segundo o antropólogo Patrício Batsikama, Mpumbu é o território onde existiu um mercado de escravos com o mesmo topônimo Mpumbu, por conta de na tradição Kongo ser o território que da origem ao mercado, ou seja, Mpumbu-Mercado.

O mercado do Mpumbu também foi um dos muitos mercados de escravos, sendo esse um famoso mercado onde surgem os famosos POMBEIROS, traficantes de escravos. De acordo com Patrício Batsikama a palavra Kinsâsa encontra-se no Mpumbu, Território-Mercado de escravos, cujo topônimo Kinsâsa deriva do verbo nsâsa, mas sendo nsâsa variante que significa educar, elevar, instruir, formar e aprender.

Kinsâsa significa literalmente Lugar da Instrução, ou Sítio da Educação, ou seja, onde foi reservado a educação dos escravos, os prisioneiros de guerras, os criminosos, entre outros.

A palavra Npambu tem a sua origem no Kikongo, cujo significado é Encruzilhada. A palavra Nzila tem a sua origem no Kikongo, mas o seu significado é diferente da palavra Npambu. Nzila significa Caminho.

Já a palavra Njila também tem o mesmo significado de Nzila, mas a sua origem é Kimbundu. No Kikongo e Kimbundu as palavras que tem os prefixos M e N seguidos de uma outra consoante, são nasaladas, mas entre algumas regiões por conta do sotaque ou melhor pronuncia, é incrementado o I, o A ou a letra U anterior os prefixos M e N ou é totalmente nasaladas, exemplo:

Mpambu = Pambu

Njila = Injila, Unjila ate mesmo Jira, Unjira

Quando pronunciamos a palavra GIRA relacionada a algum Ser Sagrado, estamos potencializando-a com o Ngunzu (Axé) do centro do Npambu (Encruzilhada), automaticamente evocando a própria força do Espírito através do Njila (Caminho, ou Destino) que vamos percorrer, para nos assegurar de positividade e nunca do negativo, pois o ponto central, a encruzilhada é um ponto neutro, contem a energia positiva e negativa. 

Quem se encontra em uma encruzilhada é, neste momento, o verdadeiro centro do mundo. Por isso o Mavambô é o Dono da Encruzilhada, porque de lá ele está no centro do mundo e as suas oferendas devem ser depositadas ali.

Essa tradição é bastante antiga e antecede o seu uso nos Candomblés Angola e Congo. É praticada no mundo Bantu já desde tempos longínquos e perdidos na história da humanidade. É nas encruzilhadas, que as mulheres BALUBAS e LULUAS (incumbidas do cuidado das plantações) costumam depositar os primeiros frutos da colheita. Se a cidade estiver ameaçada pela fome, a população inteira se dirige em procissão as encruzilhadas mais próximas a fim de depositar ali oferendas de viveres ou de velhos utensílios domésticos destinados aos Ancestrais. Nas encruzilhadas, ainda, é que as mulheres acabam de desmamar um filho, ficando assim dispensadas da proibição costumeira de terem relações sexuais durante o período de aleitamento, sacrificando uma galinha branca às almas das crianças mortas.

Ora, Mavambô é uma Qualidade de Njila que se manifesta como guerreiro guardião, temido e poderoso.

Dia: Segunda-Feira
Saudação:  Pembelê Npambu Njila
Cor: Preto e Vermelho

Fonte : Desconhecida
Njila ( Exu) - Angola




Pambu Njila, Mpambu Njila, Bambogira, Kongogiro, Ganga Pambuguera, Pangira, Ungira, Ungila

Alguns autores – dentre eles Nei Lopes - registram e dão a sua origem como do Kikongo e do Kimbundo com ligeiras variações em seus nomes (provavelmente fruto da mistura de diversas etnias que pronunciavam de modo diferente um nome comum à mesma divindade), na África, no Brasil e em Cuba, no Haiti e em outros países americanos, como a Colômbia e a costa dos EUA. Na verdade, “Mpambu” tanto em Kimbundo quanto em Kikongo significa cruzamento, encruzilhada (sendo que, em Kikongo, há a tradução de “Mpambu” como portão, ou local fechado), e “Njila” significa rua, caminho.

Por extensão, atribui-se em Angola esse nome aos homens andarilhos, os “homens da rua”. O nome “Pomba-Gira” já possui uma relação mais complexa e profunda com o “Pambu Njila” Bantu, acrescido de outras informações que vão de mitos europeus, persas e até indígenas, que, se der, um dia coloco aqui. Sem nenhuma variação mítica, em todos os povos Bantu, a encruzilhada é o umbigo do mundo, o início dos tempos primordiais onde tudo teve começo, o ponto de onde surgem as quatro retas que constroem a encruzilhada. Nzambi criou o mundo a partir desta cruz e colocou Mpambu Njila como o senhor absoluto desses caminhos, fazendo-o segurar os quatro gomos principais do Ngombo (jogo divinatório Bantu, equivalente em importância ao Opón dos Sudaneses – para que Kukiakalunga (Uma emanação de Nzambi. Kukiakalunga é o “Pensador Angolano”, equivalente ao Orunmilá Yorubá) pudesse vaticinar os destinos do mundo. Mpambu Njila é o guardião por excelência.

Aluvaiá

Aluvaiá em Quicongo fonetiza-se “Alu-Vuya”. Algumas nações, como os Tio e os Shona fonetizam Alu, ou Lalu. É uma divindade do Congo. Nas casas Angola/Congo, normalmente as cantigas referentes à Aluvaiá são entoadas em português. É o Inquisse da herança espiritual, da continuidade dos valores. É a divindade que faz os acordos com o inimigo, se fazendo passar por ele, sendo um senhor da infiltração. É quem fecha os acordos e os favorecimentos no terreno da magia.

Mavambo, Mavangu, Marambo, Marabu, Malagô, Navango, Igo Mavan, Marabô, Jiramavambo

O Senhor do Barro, o Conquistador! Nascido dos sonhos de Nkoce. Quando em suas andanças, Nkoce parava para dormir nascia um montículo de barro onde Nkoce colocava sua cabeça. Pela manhã, nesse monte, a cada dia nascia um Mavambo, para vigiar os caminhos dominados pelo vencedor dos Leões. Em várias regiões da África, os muçulmanos eram chamados de Marabu, em alusão ao fato de terem sido conquistadores em várias partes do continente. Há ainda, o termo Barabô, numa clara fusão do Jeje e do Cabinda nos terreiros do sul do país.

Sinzamuzila
O Inquisse que recebe o poder das bebidas que são colocadas na casa de fundamento e nas tronqueiras. Aquele que é sempre seco e que recebe a “Marafa” na cuia de cabaça no ritual propiciatório das escolas Congo/Angola, quando se envia o Sinzamuzilla para a porta. Do quikongo “Sanzala”, bêbado, trôpego.

Malungo

O Inquisse que acompanha as pessoas durante toda a vida. Aquele que envia seus “fantasmas de proteção” (Zumbikukulu) para acobertar quem entra e sai do terreiro, quem nos protege da morte; Aquele que livra do sofrimento. Entre os Lundakioko, “Ma-lunga” homem, amigo etc. Do Kikongo “Lungo” (Ma-lungo, plural), morte, dificuldade.

Jujuku

Aquele que faz magia de morte. Ainda que a palavra “Jujuku” seja uma palavra provavelmente Yorubá (“Juju” = magia com objetos; + “Iku” = morte) que deve ter sido aprendida pelos descendentes Bakongo, este Inquisse é utilizado para feitiços e para tormentos onde são usadas coisas pessoais daquele que se pretende agredir magisticamente.

Kijanjá, Kujanjo

Inquisse da matança e da Lua. É aquele que recebe as oferendas de todos os outros Inquisse e faz a transmissão do poder das oferendas a todos do terreiro. Por isso as matanças são feitas com os animais em ciclos que obedecem às fases lunares. Do Proto-Bantu “Kijan”, Lua, usado ainda hoje pelos jongueiros do Brasil como “Quijama”.

Mavilutango

O Inquisse da dança e do movimento, dizem as lendas que ele é que dá ao ser humano, através da dança, a capacidade de se relacionar com o mundo, com os vivos e os mortos. Por isso é ele quem se encarrega de levar o “Padê”. A palavra “Tango” vem do quibundo “Tangu”, significando pernada. A dança argentina de mesmo nome provém dessa mesma raiz Bantu, cujas origens foram praticamente esquecidas por lá.

Burungangi

Inquisse dos Bakongos, conhecido como “Mbulu” ou “Mbulunganga”. Há uma expressão em Bakongo que significa “Grande força” (Mbulu-nguzu, embora esta palavra se relacione mais com o Inquisse Burugunzo). É aquele que acompanha Biolê e é assentado nos trilhos e nas ferrovias. Nesse caso, este Jila descreve-se como “Mbulu-Nganga”, “Poder do Ferro”. A palavra “Nganga” aponta para termos Bantu relacionados a “derreter”, tais como o quicongo “Kanga” ou o Quioco “Nganga” (metal fundido), e finalmente ao Bantu genérico “Ngangula” (ferreiro). Associa-se ainda, ao Bantu multilingüistico “Nganga”, significando feiticeiro.

Bionatan

Inquisse patrono da alegria. Recebe doces e flores. Algumas traduções do Quimbundo indicam essa palavra como “risada”, bem ao estilo dos Njila. Mas há ainda, traduções do Quicongo: “Mbyantunda”; “Ntunda” – Monte, colina; “Mbya” – coquinho de palmeira, talvez uma aproximação deste Inquisse com o Exu yorubano nas questões dos métodos divinatórios.

Sigatana, Singangara, Siganga, Gangaiô

“Singa” – nome que se dá à vara do canoeiro. No quicongo “Sinda”, se traduz como ir ao fundo d’água; no umbundo “Sinda” refere-se ao ato de empurrar associado ao multi-Bantu “Nganga” – feiticeiro, traduz-se aproximadamente como o feiticeiro que habita o fundo das águas. De fato esse Njila associa-se a Zumbarandá e Kissimbi nos assentamentos destes outros MiInquisse. É invocado simbolizada pelo egan (gorrinho em forma de cone), e pela pena vermelha do papagaio.

Tibiriri, Tonã

Encontra-se menção a este Inquisse nos rituais Angola, embora seja óbvia a sua relação com o Tiriri dos Yorubá: “Ti” – Grande Força; “Riri” – Valor, traduz-se como “Valoroso”. Igualmente Tonã parece relacionar-se com o Lonã (Caminho) Yorubá. Resta descobrir se houve uma aculturação do Nagô sobre os rituais Congo/Angola, ou se na própria África essa divindade se espalhou por várias regiões. Há ainda a o termo Tupi Tiriri (nome de uma ilha), originado de su-y-ry-ry, que significa "pássaro que faz barulho”. Interessante é que em alguns totens deste Inquisse há um pássaro esculpido e ainda, na Umbanda, Tiriri é o guardião de Yori/Ibeji/Oxum (yabá dona de um pássaro), cujo sinal cabalístico de pemba representa hieraticamente, um pássaro. E, finalmente, encontramos na Cabala hebraica o termo “Tirirel” como o demônio guardião de mercúrio (planeta de Yori). Vai saber...

Ngambe, Ingambeiro, Engambeiro

O termo engambeiro ou engambelo é comumente usado pelo Povo-de-Santo como verbo, na flexão engambelar, o que aproxima este Inquisse da representação de Trickster do Exu yorubano. No Umbundo diz-se “Uyambelo” como o presente que se dá ao curandeiro, o que originou, possivelmente a palavra engambelar - de uso nos terreiros quando se dá uma oferenda de paliativo ao “santo” até que se possa dar outra melhor. O povo Ganguela diz “ndambelo” como aquela porção que se dá a mais do que se promete como “agrado” em troca de um favor. Os Soto dizem “Kabelo” com o sentido de contribuição. Ngambe é o nome de um Inquisse onde em sua barriga colocam-se moedas, notas (na antiga África usava-se búzios, marfim e cobre) e outros objetos de valor.

Etajelungi

Mais um Njila que nos parece uma somatória brasileira do fundamento das qualidades de Exu com o de algum Inquisse Congo. “Etá” em quicongo traduz-se como pênis ou como qualquer objeto que lembre o falo. É acrescido, talvez da palavra yorubana “Ijélu” – “I” – (Aquele que); “jê” (é); “Elú” (Índigo, a planta que produz a tinta chamada “Arô” para fazer o “Wáji”, que representa o preto nas pinturas rituais. Entre os Bakongo a representação do falo de alguns Njila é pintada com a cor azul, assim como dissemos na abertura, sobre os Pambu Njila e a influência ritual Yorubá.

Korobo

O Pambu da folha, espécie de “Aroni” angolano, portador da enxada, foi quem ensinou os homens a plantar. É o guardião da “Kisaba Kiasambuka” do Inquisse Katendê. Em quicongo encontramos a palavra “Kulumba”, como “homem rude do mato”, que vaga pelas estradas e “Kuluba” como “enxada velha”.

Niquerô

Inquisse que recebe as oferendas dos Minquisse caçadores. O guardião da fartura e da distribuição de força vital para o terreiro. Em quicongo, “Ndiiki”, aquele que alimenta.

Dundo Salunga, Dundo Calunga

Inquisse do mistério, Pambu do silêncio, o grande peixe que leva as pessoas para o infinito. Sua representação é a de um peixe de madeira onde se colocam mensagens e objetos para os que se foram. Dundo em quicongo é “Ndundu” e refere-se ao peixe Seese. Calunga vem do termo multilingüístico Bantu “Kalunga” que traduz a idéia de grandeza, eternidade, vastidão. Pode ser tanto identificado com o céu e o espaço infinito como com o mar. Kukiakalunga é o Inquisse pensador dos Angolanos (do verbo “Oku-Lunga” – ser esperto), o patrono do jogo Ngombo. No Brasil o termo se ligou ao cemitério e à morte, pois muitos escravos morriam no mar antes de aqui chegarem, embora a idéia de eternidade ainda assim, tenha relação com o local onde habitam os mortos

Naban, Nabondo

Inquisse guardião das árvores. Representado por um pássaro (!). Conforme o quikongo “Na-mbondo”, uma árvore, o embondeiro. Divide seus poderes com Nkondi – Inquisse da família de Nkoce - esta árvore é cultuada principalmente para o feitiço. O embondeiro tem forma de garrafão, e é chamado de “Nkondo Ikuta Mvumbi” (Embondeiro do morto gordo), por que a pessoa contra quem se faça o feitiço, contra quem se prega o prego, morrerá gordo, inchado como o embondeiro. Conforme o prego usado, o efeito, segundo o povo de Cabinda, será mais ou menos imediato, se for de ferro, de cobre ou de alumínio.

Ingué, Izangué, Yanga

Entre os Tchokwe encontramos a divindade Yanga, fonetizada como Yangue em outras tribos do norte de Angola. A lembrança da relação do nome com o Exu Yangi dos Yorubanos é inevitável. No Brasil e em Angola Ingué e Yanga compactuam do fato de não beberem cachaça nem dendê. Veste-se de branco. Na África, como no Brasil, quando está possuindo alguém, não come nada vermelho.

Malusibango 

Encontra-se referências rituais de um Inquisse da fortuna em Angola, chamado “Luo-Mbangu”. E encontramos a palavra “Mbangu” em quicongo significando “benesses” ou “ganho”.

Apavenã

É o senhor das oferendas, o portador e o mensageiro. É sempre o primeiro a ser invocado. É o dono do dendê, por isso o carrega na peneira, segundo dizem...

Imbeberiquiti, Imbeperequeté

Inquisse guardião das portas das casas. Seu nome refere-se a alguém sentado, ou baixinho, provavelmente em alusão a postura que assumem as pessoas que o incorporam na África. Do Umbundo “Velekete”, pessoa de estatura baixa, ou alguém de cócoras/sentado.

Manawelé, Mawe, Mavilê

Maville é um dos nomes associados a todos os Njila. Mavile vem do Umbundo “Omavele” ou do Quicongo “Mavele”, plurais de “Avele” que significa leite, provavelmente alusão ao poder de ligação destas divindades guardiãs com o poder criador do esperma.

Kunkurunguanje 

Inquisse da palavra e da invocação, das poesias e dos Jamberessu. O que fala pelas outras divindades. Do quicongo “Nkunga”, canto, poema, palavra, associado ao Umbundo “Ulungundju”, ronco ou urro. Traduz-se como “aquele de voz rouca”, característica bem típica da manifestação destas divindades.

Kamungo, Camunga

Inquisse que se esconde, que mora embaixo da terra. Seus fetiches são enterrados e as oferendas colocadas por cima, o que o relaciona aos mortos e aos ancestrais. Em linguagem cifrada os jongueiros chamam “Kamungo” de tambor, em alusão ao orifício do instrumento, onde algo pode se esconder. Há o Nhungue “Kabungu”, o Iaca “Nungo”, o Umbundo “Ochimunga” e Quibundo “Kibunga”, todos significando objetos como chapéus, panelas, baldes, etc, utensílios que identificam algo que cobre. Há ainda a concepção totêmica do rato, animal relacionado, na África aos Njila, assim como o marimbondo e outros, pequenos animais com grande poder de penetração nos lugares. A linguagem cifrada dos velhos feiticeiros velou o significado sagrado deste Inquisse, assim, no Umbundo encontramos a forma diminutiva “Oka-mpuku”, ou “Okamundongo”, rato, camundongo, e ainda, “Mundongo”, como escravo, identificando a função exterior de divindades guardiãs africanas como Exu, Bara e Pambu-Njila.

Jembelu

Classe de Njilas que recebe a menga do sacrifício: são os Yembêle. Do quicongo “Mbe”, som onomatopaico de pancada, associado à raiz “Ele”, líquido, leite, ou algo que escorre, no caso, a menga.

Embarujo

O Inquisse guardião da cura, é quem acompanha Kavungu. Do Umbundo “Uemba”, significando feitiço, veneno e remédio.

Kariapemba

Talvez por influência católica já em terras africanas, ou talvez mesmo em Portugal, essa divindade – assim como outras, tais como Nkoce, conforme veremos – é tida como extremamente maléfica entre os angolanos, havendo a necessidade de benzer-se o ambiente onde se acredite que ele esteja. Seu nome, em Quicongo “Nkadi-a-pemba” e em Quibundo “Kádia-Pemba” não assimila outra tradução que não “demônio”.

Manakó, Manacuco, Mancuco, Mancuce

Invocado no pade, é quem providencia a comida e a bebida de todos. Benéfico, não gosta de bebida alcoólica, gosta de branco. É quem dá a fortuna. Há a relação oculta da fortuna e da bem aventurança com o fato de seu nome bantu ser, no Quicongo, “Nkusi”, no plural “Bakusi”, traduzindo “o pescador”. Há ainda “Munkusi” – “Vento que vem do estômago (flatulência)”, traduzindo o estado de saciedade quando se está farto de comida.

Toroni Batola, Bute

Do Ronga “Mbuti”, bode, animal geralmente usado em sacrifício a estes Njila.

Quitungueiro

Inquisse ou espírito da morte, que se apresenta de todas as formas possíveis, pois não é possível desvencilhar-se dela. Do Quicongo “Kintungu”, tudo que aparece por inteiro, que se desenvolve e que se mostra de várias formas. Associa-se o conceito ao Quibundo “Kitungu”, casebre, mausoléu, ou seja, o lugar onde habitam os que se transformaram: cemitério.

Caracoci

Do Quicongo “Ekala” homem (quando se refere a alguém que não se conhece), associado ao Quibundo “Kutxi, Kuxi”, orelha, de onde vem o português “cochichar”. “Homem que murmura, fala baixo”. Muitas das manifestações mediúnicas e possessões africanas e no Brasil, estes espíritos se comunicam dessa forma.

Fonte: Desconhecida

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Angola 





A FORMAÇÃO TERRITORIAL E A DIVERSIDADE ÉTNICA NA CONQUISTA COLONIAL
(Angola-Congo)


A República de Angola é, depois do Congo (Ex-Zaire), a maior nação ao sul do Saara. Com uma área de 1.246.700 Km2, foi durante quinhentos anos uma grande colônia portuguesa. Angola está situada na costa ocidental da África, em frente ao Brasil e tem fronteiras ao norte com a República Popular do Congo; a nordeste, com a República Democrática do Congo ou Ex-Zaire; a leste com a Zâmbia; e ao sul, com a Namíbia.

O território tem um comprimento máximo de 1.277 Km no sentido norte/sul e 1.236 Km de leste a oeste. Em fronteira marítima tem 1.680 Km e terrestre 4.928 Km.

A formação étnica de Angola iniciou-se a partir da migração dos bantos, povos que falam as línguas bantu, comum na África Oriental, Central e Meridional cujo termo singular é muntu, que significa "homem", "pessoa". Segundo o historiador Ralph Delgado, em 1482, quando os portugueses chegaram ao estuário do Rio Congo, os povos bantos já se encontravam ali em diversos reinos. Segundo Vansina (1985:556), "a expansão das línguas bantu pode refletir a ocorrência de grandes migrações que terminaram bem antes do ano 1100".

No entanto, a história desta população primitiva da África Negra só começou a ser decifrada a partir do século XIX, quando o mapa do continente negro foi discutido intensamente na Conferência de Berlim de 1884.

De acordo com os etnólogos especialistas em África, a etnia Banto, compreendia vários grupos como: Bakongos, Lunda-Cokwel, Mbundu, Ovimbundu, Ambós e outros pequenos subgrupos, que se expandiram pela África a partir da zona equatorial.

A penetração dos portugueses nos seus territórios teve início no reino dos bakongos, atual Zaire, província de Angola ao norte do país. Dentro da visão expansionista dos portugueses já havia uma consciência de que a conquista deste território não seria fácil, porque os bakongos, antes da chegada do colonizador, já dominavam técnicas da metalurgia, transformando ferro em instrumentos de guerra, conseguindo assim hegemonia territorial sobre os outros reinos próximos ao seu Estado.

Em volta do reino bakongo havia outros Estados menores. Em virtude da distância do centro, eram considerados independentes teoricamente, na prática respeitavam a supremacia do "manicongo". (Manicongo: o mesmo que reino do Congo. Compreendia Matamba e Angola).

"Entre estes reinos distantes destaque para três: NgoyoKakongo e Luango na costa do Atlântico a norte do estuário do Congo, área conhecida como Matamba atravessado pelo vale do Cuango a sudeste, e a região de Ndongo, que incluía quase toda a parte central de Angola, de ambos os lados do Rio Kuanza. Quando houve os primeiros contatos com os portugueses, o mais importante dos muitos pequenos chefes da região de Ndongo era um que possuía o título hereditário de Ngola, que os colonizadores deturparam dando mais tarde o nome de Angola à Colonia" (Oliver. R. E. Fage, 1980:139)

A luta do povo angolano do ponto de vista da resistência representou o início de um ensaio da libertação política, já que as determinações da coroa portuguesa eram explicitas em direção a futura expansão territorial.

Durante os anos que Paulo Novaes passou nas terras angolanas, pôde ver bem em que condições poderia fazer a ocupação e a colonização portuguesa. Dentre as informações colhidas sobressai uma, que dizia respeito às minas de prata do Cambambe.

Paulo Novaes na visita que fez ao reino, conseguiu despertar interesses do soberano por aquelas terras. Ele deixou a impressão à coroa portuguesa de que poderia fazer em Angola uma colonização agrícola fácil, semelhante à do Brasil. Soube ver o perigo da infiltração das outras potências européias, que começavam a olhar com cobiça para as terras além-mar. Como o Brasil, Angola teve o seu período pré-colonial, quando os interesses da coroa portuguesa ficaram voltados para outros territórios em virtude das condições mercadológicas do século XVI.

"Os colonialismos e imperialismos espanhol, português, holandês, belga, francês, alemão, russo, japonês, inglês e norte-americano sempre constituíram e destruíram fronteiras, soberanias e hegemonias, compreendendo tribos, clãs, nações e nacionalidades. São muitos os que reconhecem que os Estados Nacionais asiáticos, africanos e latino-americanos foram desenhados, em sua quase totalidade pelos colonialismos e imperialismos europeus, segundo os modelos geo-histórico e teórico, ou ideológico, que configurou toda a Europa (Ianni,1996:41).

Não poderia ser diferente a forma adotada pelos portugueses na ocupação e colonização de Angola, adotando o sistema de capitanias. A diferença básica é que a capitania foi atribuída ao próprio Paulo Dias de Novaes.

Tinha trinta e cinco léguas de Costa, começando a contar da foz do Rio Cuanza para Sul. No interior podia entrar até onde fosse possível, recebendo ainda outras doações, que poderia escolher sob três condições: deveriam ser repartidas em quatro partes; entre cada uma delas haveria pelo menos um espaço de duas léguas; sendo aproveitadas no prazo máximo de vinte anos a contar da data da posse. 

O capitão Paulo Dias de Novaes tinha obrigações como:

1º - defender, povoar e cultivar a terra, sem qualquer custo à coroa portuguesa;
2º - construir três fortalezas nas terras do domínio real;
3º - explorar toda a costa ocidental da África desde o Rio Cuanza até ao Cabo da Boa Esperança.

O donatário ficava, contudo, com uma larga margem de benefícios, porém sem qualquer recurso da coroa. Nestas condições o mercado escravocrata foi uma opção rentável, além da utilização de todos os recursos dos rios e portos que nestas terras houvessem. Acreditava-se que D. Sebastião estivesse decididamente resolvido a aproveitar ao máximo as terras africanas. Paulo Dias de Novaes tinha ainda a obrigação de estabelecer as famílias européias na sua capitania, sobretudo agricultores e os mais variados grupos sociais, independente da procedência na antiga metrópole. Pretendia-se com esta medida espalhar naquelas terras os costumes europeus e ensinar aos autóctones o aproveitamento das riquezas naturais. Enfim, era um plano de colonização. Procurava-se evitar em Angola os erros cometidos no Brasil, aproveitando a experiência adquirida para os futuros indígenas nas terras de Ngola. Apesar de todo o planejamento o "rei de Angola não se mostrou tão fiel aliado dos portugueses como o rei do Congo." (Santos, 1967:35).

Reagindo a invasão, os sobas e os reinos dominados, iniciaram uma série de revoltas. As mais importantes revoltas ocorreram no sobado da Kisama, e no sobado dos Dembos que protegiam grupos de escravos fugitivos, do Ndongo, da Matamba, do Kongo, de Kasanje, do Kuvale e do Planalto Central. Das pequenas revoltas, que foram apagadas na história dos vencedores, algumas permaneceram como testemunho da resistência, mostrando que as revoltas nunca cessaram na extensa capitania de Paulo Dias Novaes.

1ª - A Revolta de 1570: foi liderada pelo carismático "Bula Matadi", um aristocrata, que vendo o perigo que corria o seu povo, fez uma guerra de resistência para que não fossem explorados e dominados pelos portugueses. Bula Matadi mobilizou toda a comunidade para expulsar os portugueses do reino do Kongo, com a perspectiva de acabar com as intrigas que enfraqueciam o reino. Os portugueses interviram militarmente ao lado do rei do Kongo, depois de muitas batalhas Bula Matadi foi morto no último combate.

2ª - Resistência no Ndongo: No reino do Ndongo, foi forte a resistência contra a chegada dos portugueses. Com o espírito aventureiro, Paulo Dias de Novaes procurou o Ngola a fim de se informar das riquezas que havia no Ndongo. Desconfiado das intenções de Novaes, não lhe facilitou seu desejo e teve-o preso em Kabasa durante cinco anos. Quando libertou o capitão português, ele regressou ao seu país e voltou alguns anos depois com homens armados, dispostos a fazer a guerra ao Ndongo, a partir da cidade de Luanda, onde se instalou e mandou construir uma fortaleza.
Ngola Kilwenje era então o rei do Ndongo. O seu exército conseguiu vencer os portugueses em várias batalhas, embora as armas fossem simples arcos e flechas contra as armas de fogo que os invasores traziam.

Contudo, a resistência enfraqueceu à medida que alguns chefes foram abandonando a luta e, quando Ngola Kilwanje morreu, o Ndongo foi aos poucos ocupado pelos agressores. Muxima, Massangano, Kambambe foram caindo na posse dos portugueses que construíram fortes nos pontos altos a fim de melhor vigiar e dominar as populações. Algumas tribos e chefes sujeitaram-se a esta situação e pagaram tributos em escravos aos capitães portugueses. Outros preferiam fugir das áreas ocupadas e continuar a lutar, refugiando-se em zonas protegidas como as ilhas do Kwanza.

3ª - Njinga Mbandi: O maior símbolo da resistência ficou para a Rainha Njinga Mbandi, que além da luta contra a ameaça do colonizador, conseguiu aliar os povos do Ndongo, Matamba, Kongo, Kasanje, Dembos, Kissama e do Planalto Central. Foi essa a maior aliança que se constituiu para lutar contra os portugueses. As diferenças e interesses regionais foram esquecidos a favor da unidade contra o inimigo comum. Esta unidade teve os seus efeitos positivos: durante vários anos, os portugueses perderam posições e foram reduzidos a um pequeno território de onde seriam expulsos se não recebessem reforços. Segundo o historiador Ralfh Delgado em seu livro História de Angola (terceiro período, de 1648 a 1836),

"Desejando restabelecer a paz com o Governador, depois de exaustivas lutas, a nova rainha mandou à Luanda (principal base dos portugueses), uma embaixada, que alcançou os seus objectivos, mediante a intervenção, por ela solicitada, de figuras eclesiásticas de realce entre as quais o bispo. Proposto em 6 de setembro de 1683, o tratado de vassalagem obedeceu a oito condições, estipuladas pelo Governador e aceites pelos protetores da soberania". O destaque destes termos está no item quatro, que na íntegra força a rainha a dar abertura em suas terras para os forasteiros e caçadores de escravos "Será a mesma rainha obrigada a mandar abrir os caminhos para o comércio, sem impedimento algum franquiar nas terras do seu estado, e para que os pumbeiros possam ir e vir livremente sem que ela ou vassalo seu algum lhe possam impedir, antes lhe mandará fazer toda a boa passagem e tratamento para que sem dilações façam os resgates a quem foram encaminhados não se consentindo se alterem as fazendas dos banzos que serão na mesma forma que sempre foram sem engano ou imposto algum quibasco; ordenará outrossim que no seu quilombo se pratique e corra somente o côvado de Portugal que é de três palmos, e o verdadeiro por onde as fazendas neste reino se costumam vender, porém, as que nele se medem por vara que é de cinco palmos se medirão também no mesmo quilombo; e assim mais será a dita senhora rainha obrigada a consentir que os pumbeiros dos moradores possam ir comerciar, com os potentados do reino do Sonso, Quiacar, Punamujinga, Sundi, Casem e Damba, sem que disso possa impedir nem vassalo seu algum; e o que este impedimento se atrever, de mais do castigo que lhe der, será remetido a este governo para também por ele se mandar castigar; e para o bom efeito deste ponto mandará abrir os caminhos aos pumbeiros para que sem embaraço possam passar" ( Delgado, 1955:72).


Tat'etu Kambaranguanje

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