quarta-feira, 3 de maio de 2017

Nkisi


Nkisi (cujo plural é Mikisi ) é a palavra em kimbundu que significa “ Energia Divina ” e que define o que chamamos de “ Santo ”. 


Os ancestrais de nossa Casa nos transmitiram, dentro de nossa filosofia na cosmogenese, que Angomi , ao manifestar-se tornando-se Nzambi Ampungu ( Deus Universal ), gerou duas polaridades energéticas que, ao se encontraram transformaram-se em treze Energias e essas Energias criaram o Universo e tudo que nele existe. Portanto temos aí o primeiro princípio de nossa filosofia: “ Tudo o que existe é formado de uma mesma Energia: A Energia Divina ”.


Cada Nkisi se manifesta no Plano Físico como um elemento da natureza, um som, uma (ou mais) cor, um (ou mais) mineral, uma formação natural definida, etc

Kuzamba Nkisi imóxi! Nzazi!
Única Energia da Justiça! Nzazi!



•  Tatetu Kambaranguanje

aglutinação de Kamba ria nganga ajê - Um Santo amigo firme (como as pedreiras), “O Senhor da Justiça Divina”, portanto o destino (ou Karma), é a manifestação da Justiça de Deus, julga e confere nossos atos durante cada encarnação.
    
Implacável, como a justiça deve ser, não aceita e não acata erros. Por isso é o “Senhor das Cabeças”. Sua manifestação no mundo físico é nas pedreiras e rochas, pois a Justiça é dura e firme como as pedras o são. Sua arma o “Luazí” (machado) é representado com duas lâminas idênticas informando que corta para todos os lados igualmente.

Em nossa Casa o cultuamos na forma de “Tatetu Loango”, o Senhor do Fogo e o festejamos durante o plenilúnio de inverno nos “Fogos de Loango”.


Seu dia é quarta-feira, suas cores a vermelha e a branca juntas, no sincretismo foi representado por São Jerônimo e é festejado em 30 de setembro. Sua oferenda preferida é o omalá que deve ser feita em noite de lua cheia, acompanhada de cerveja preta e iluminada por, pelo menos, 12 velas.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Aluvaiá





Diziam os kassanges que outrora todos nós habitávamos o mundo espiritual. 

N'mutalambo são as lendas contadas pelos kassanges, que falam da precipitação da grande energia sobre o mundo material. 

Diz a lenda que, no passado, Angomi era o próprio Nzambi. Neste tempo Angomi dormia sono profundo e se expandia cada vez mais. Ao crescer, Angomi foi vendo que, ao seu redor, estava inserido o desconhecido. Como não podia sair do seu espaço, começou a emitir forte luz e a concentrá-la num ser chamado Aluvaiá. Este prometeu a Nzambi que iria percorrer os outros espaços e trazer informações. Para isso, pediu a Nzambi o poder mágico de precipitar a energia, capaz de formar a massa-matéria. Nzambi tão logo ouviu o pedido, deu o segredo à Aluvaiá, e este saiu em busca de outros espaços. Ao penetrar no desconhecido, Aluvaiá começou a ficar vaidoso. Sentindo-se poderoso pelo segredo obtido, resolveu não mais voltar. Passou então a moldar as massas, após preciptar a energia, transformando-a em matéria. Os seres criados por ele passaram a ocupar os grandes centros da matéria aglutinada, chamados mundos. Os seres não tinham, entretanto, o segredo da perpetuação, única chave deixada a Nzambi. Aluvaiá não se incomodava com isso e criava, a cada dia e a cada hora, um novo ser. Aluvaiá lhes deu o sangue, para que a vida das criaturas fosse mais prolongada. Entretanto, Aluvaiá, após algum tempo, começou a se enfraquecer. Para se manter poderoso começou a beber sangue dos seres que ele mesmo criara. Assim procedendo, Aluvaiá, passou a ter a mesma constituição dos seres viventes. Nesse tempo os seres não conheciam outro senhor do universo - aquele que fora incriado. Indagando à Aluvaiá, um deles lhe pediu vida eterna, e este logo respondeu que o segredo esta com Nzambi. Aluvaiá sobrepôs a barreira e chegou até Nzambi. Mentindo, disse-lhe que do outro lado havia seres bonitos, planetas, flores, etc. Acrescentou, então, que se ficasse mais tempo se enfraqueceria muito. Por isso, precisava conhecer o segredo da perpetuação. Nzambi percebendo as suas emanações, falou: "Aluvaiá, você me enganou, usando seus poderes e bebendo da sua própria essência. Por isso, mandarei você de volta e, como castigo, terá que se manter com a própria essência da vida que você conhece - o sangue". Nzambi tomou a decisão de criar novos seres espirituais para controlar seu infinito espaço: eram os Nkisi. De tempos em tempos, Nzambi pedia a um dos Nkisi para descer ao espaço de Aluvaiá fazia um bom trabalho. Nzambi então pediu que Aluvaiá viesse à sua presença e falasse das suas obras. Aluvaiá pediu ajuda àqueles que eram os mensageiros de Nzambi. Para isso, Aluvaiá usando da resposta positiva desceu com eles aos mundos habitados. Os Nkisi, vendo a grande obra, passaram a ter os domínios dos mares, matas, ares, fogo, etc. Aluvaiá vendo o seu império comprometido, zangou-se com os Minkisii. Estes alegaram que tais segredos de formação da natureza valorizaram os seus trabalho. Os Nkisi, de posse dos domínios de Aluvaiá, passaram a capacitar os seres de realizar diversas proezas. Aluvaiá, com isso, foi perdendo seu poder e resolveu voltar a Nzambi, alegando que os mensageiros expulsaram-no do seu espaço. Nzambi deu então à Aluvaiá a missão Intermediária de ficar entre os dois espaços. Com o passar dos tempos, os seres, sentindo necessidade de Aluvaiá, faziam-lhe sacrifícios para chamá-lo, já que estes ficaram dependentes do sangue por ele criado. Como castigo, Aluvaiá passou a ter a responsabilidade de manter a vida material através do sangue. Esta lenda mostra porque não conhecemos diretamente Nzambi. Fomos formados por Aluvaiá. De Nzambi recebemos apenas a essência do espírito, dada por Lembaranganga. Foi ele que precipitou os seres espirituais à matéria".


/Fonte: Autor: José R. da Costa (Tata Nitamba Tarangue) /

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Um pouco de conhecimento sobre:


Nsumbo/Kaviungo (Obaluaye)


Nkisi que nos aponta um principio e um fim, capaz de captar todas as influencias negativas de casas e pessoas, ídolo da desintegração.

Na  nação angola , é a ele que chamamos para levar o muenga (iniciado) até o iungo (terra), a ele também pedimos na catulagem, e na hora de maior fundamento lá está ele , aquele que carrega os maiores segredos da nação...

É filho de ZUMBARANDÁ e LEMBARAGANGA. Irmão adotivo de MUKUMBE e ALUVAIÁ e irmão carnal de TEMPO e ANGORO.

A varíola é a punição que ele aplica aos maus feitores. Quando morre uma pessoa, KAVIUNGO senta-se em cima do corpo , reivindicando seus direitos. Está relacionado a terra, os troncos das árvores e os ramos. Transporta o AXÉ preto, vermelho e branco, seu maior segredo é com os espíritos contidos na terra, que são seus irmãos e de quem ele é o maior símbolo. Assim como ZUMBARANDÁ, ele é o patrono dos CAURIS. Ele usa em suas vestimentas um capuz de palha da costa, chamado AXÓ YIKÓ, que lhe foi dado por seu irmão GONGOBIRA , para que cobrisse as chagas e, principalmente, seus olhos, pois, contêm todo o brilho do sol e quem olhasse perderia a visão. O AXÓ YIKÓ é um material de grande significado, pois, participa de todos os rituais ligados a morte. A presença de YIKÓ é indispensável, em todas as situações que se maneja com o sobrenatural. 

O YIKÓ é a fibra da ráfia, obtida de palmas novas de YIGYOGÓRO, árvore sagrada, que produz a palha obtida dos talos do olho da palmeira, quando nova, antes delas abrirem-se e curvarem-se.

O fato de cobrir-se com YIKÓ e ornar-se com búzios e cabaças, mostra que estamos na presença de um Òrixá ligado, diretamente, com a morte, cujas faculdades destruidoras são de difícil controle.

Segundo as lendas, ele é irmão mais velho de KAMBARANGUANGE. KAMBARANGUANGE destronou um KAVIUNGO velho e assumiu seu lugar, por esta razão existe a guerra entre os dois Òrixás. Pessoas de KAVIUNGO não pegam no XÈRE nem participam da roda de KAMBARANGUANGE. No KUKUANA não entra AMALÁ e na comida de KAMBARANGUANGE não entra DEBURUS.

KAVIUNGO usa miçangas pretas e brancas ou pretas, vermelhas e brancas, dependendo da qualidade, amarelo, preto e marrom.

Sendo OMOLÚ o dono da terra, é ele quem nos dá todo o tipo de alimentos, inclusive, a ele pertencem todos os grãos.

Os KISSICARANGOMBE tem que ter respeito pelos atabaques, pois, KAVIUNGO é o dono dos couros. Este nkice é o padrinho de todos os KISSICARONGOMBE. Quando vamos dar comida aos atabaques, damos comida a KAVIUNGO.

A KAVIUNGO pertence o porco, cabrito, frangos, galos carijós, frangos rajados, d'angola, tatu e cágado. Carneiro é sua grande KIZILA. Pega, também, patos pretos e brancos.


QUALIDADES

- TATETO KULAMBA RIA WUNGANA ( Equivalente a SAPONAN no Kétu )

É o mais antigo. É proibido falar seu nome. Na África quando se fala seu nome, coloca-se mel na boca. Come com ALUVAIÁ e tem fundamento nas encruzilhadas. Tem caminhos com GONGOBIRA e é o deus da varíola e das doenças de pele. Era êle quem dizimava nas aldeias. Suas contas são brancas e pretas.

- TATETO KULAMBA RIA TAKUBENANGUANGE ( Equivalente JAGUN ou AJAGUN no Kétu )

Tem caminhos com LEMBARAGANGA. É jovem e guerreiro. Leva na mão uma lança chamada OKÓ. É vingativo, ambicioso, luta para alcançar posição alta sem ver de que maneira. Tem caminhos com MUKUMBE TANGO AVANGO, LEMBÁ, MONAKAIA ( AIRÁ ), ALUVAIÁ e MALEMBÁ. Êle é cultuado no dia 17 de dezembro, veste branco e preto e suas contas são rajadas. O seu cuscuzeiro leva uma seta só, vem dentro de uma bacia com 9 pratinhos brancos de barro. Seu verdadeiro encanto, como dos outros, é o cântaro ( moringa de uma asa só ) . Neste cântaro pôe-se jóias e dinheiro. Êle não come feijão preto. Come miúdos de boi no azeite doce, os outros comem com demdê. Êle é o único que come ÌGBÍN.

- TATETO KULAMBA RIA BELAGUANGE ( Equivalente a AZAUANI no Kétu )

É jovem, veste preto e branco como suas contas. Tem caminhos com TEMPO e ANGORO. Come tatu na praia.

- TATETO KULAMBA RIA KANJANJA.

- TATETO KULAMBA RIA APANANGO.

- TATETO KULAMBA RIA KATULE.

- TATETO KULAMBA RIA KAFUNGE.

NSUMBU ANGOSSARA

DUNDE SALE 

DUNDARÁ MALAIZO

KINGONGO

KAFUNAN KASSUENZO

KAKAWANI

KATEN KATULÈ*

KIMBONGO

KATUIZO(****)* KATURA GONGUÈ * KALELE

KATULEMBARASSIMA* SUMBUNANGUÈ KAFUNGÈ

KATUBELANGUANGE* KAWUNDEN

* Os KATU - cor clara - preto e branco - têm idade - comem com Lembá
Ligado à vida

Os que têm DUN no nome são perigosos.

Ligado à morte como Xapanã

Izo = fogo - ligado a Pambunjila e Kaiangu

Bloog: caminhoparaafrica.blogspot.com
Page face: https://www.facebook.com/AncestraisAfricano/

Fonte: http://vodunabeyemanja.blogspot.com.br/2011/05/xapanasakpatansumbo-parte-v.html

sábado, 1 de outubro de 2016

Lendas: Nkisi Nzumbarandá
 (A briga com Nkosi)


No início dos tempos, os pântanos cobriam quase toda a terra. Faziam parte do reino de Zumbarandá e ela tomava conta de tudo como boa soberana que era. Quando todos os reinos foram divididos por Olorun e entregues aos orixás, uns passaram a adentrar nos domínios dos outros e muitas discórdias passaram a ocorrer.

E foi dessa época que surgiu esta lenda. Nkosi precisava chegar ao outro lado de um grande pântano. Havia uma séria confusão ocorrendo e sua presença era solicitada com urgência. Resolveu então atravessar o lodaçal para não perder tempo. Ao começar a travessia, que seria longa e penosa ,ouviu atrás de si uma voz autoritária:

– Volte já para o seu caminho rapaz!

Era Zumbarandá, com sua majestosa figura matriarcal, que não admitia contrariedades.

– Para passar por aqui tem que pedir licença!

– Como pedir licença? Sou um guerreiro, preciso chegar ao outro lado urgente. Há um povo inteiro que precisa de mim.

– Não me interessa o que você é, e sua urgência não me diz respeito. Ou pede licença ou não passa. Aprenda a ter consciência do que é respeito ao alheio.

Nkosi riu com escárnio:

– O que uma velha pode fazer contra alguém jovem e forte como eu? Irei passar e nada me impedirá!

Zumbarandá imediatamente deu ordem para que a lama tragasse Nkosi para impedir seu avanço. O barro agitou-se e, de repente, começou a se transformar em um grande redemoinho de água e lama. Nkosi teve muita dificuldade para se livrar da força imensa que o sugava. Todos os seus músculos retesavam-se com a violência do embate. Foram longos minutos de uma luta sufocante.

Conseguiu sair. Entretanto, não conseguiu avançar e, sim, voltar para a margem. De lá gritou:

– Velha feiticeira, você é forte, não nego. Porém, também tenho poderes. Encherei esse barro que chamas de reino com metais pontiagudos e nem você conseguirá atravessá-lo sem que suas carnes sejam totalmente dilaceradas.

E assim fez. O enorme pântano transformou-se em uma floresta de facas e espadas que não permitiriam a passagem de mais ninguém. Desse dia em diante Zumbarandá aboliu de suas terras o uso de metais de qualquer espécie. Ficou furiosa por perder parte de seu domínio mas, intimamente, orgulhava-se de seu trunfo:

– Nkosi não passou!
Mikaiá



Mikaiá, Kokueto, Kaya e Kayala saõ nomes para uma mesma Divindade, a dona dos mares e das cabeças, que para os Yorubás seria Yemanjá.
Mikaia, Nkaia ou Kaia(la) – Senhora das águas. Nível mitológico das sereias. Das grandes mães mitológicas, Juntamente com Ndanda Lunda e Kisimbi se tornam a mãe d’água.
Mikaya é um dos Nkisses mais importantes porque ela reperesenta o equilíbrio psiquico.
A parte do corpo regida por Mikaya é a cabeça.
Seu elemento é a água.
Ela é a guardiã das águas do mar, onde, a parte mais profunda das águas é guardada porMikaya que é a mais velha;
Kokueto, a mais nova e guerreira é a guardiã das pedras e o quebrar das ondas.
Kayala é a guardiã das areias e das espumas das ondas.
Essa Divindade é vaidosa, é a mãe, a mulher acolhedora, que cuida dos filhos, não somente dos filhos que saíram de seu ventre, mas também seus flhos de criação.
Mikaya criou os filhos de Zumbá, ela é mãe de criação de Kavungo, Angoro…
Ela é Mameto Mutuê, a mãe de todas as cabeças.
Mikaiá é sempre reverênciada nas obrigações de Angola, pois assim como Yemanjá no Ketu, ela é a mãe de todos.
Informações:
Cores: Prata ou Azul.
Dominio: Mares e Cabeças.
Regente: A parte psiquica.
Dia da semana: Sábado.
Pedra: Cristal.
Elemento: Água.
Kizila: Pimenta.

N'Dandalunda 




Numa certa manhã, vinha de cabeça baixa e muito triste uma Kerere, lamentando-se «estou fraca, estou fraca, estou fraca!».

Resolveu saciar a sede num riacho. Lá deparou-se com uma linda mulher que se banhava e coquete 
como só ela sabia começou a pintar-se.

Kerere quando viu aquilo admirou-se: era Dandalunda, aquela que dá brilho às jóias e se banha e pinta antes mesmo de cuidar dos filhos…

Dandalunda quando percebeu a tristeza daquela ave perguntou-lhe:- Porque é essa tristeza Kerere?

Kerere respondeu-lhe:

- Entre os meus pares eu sou a mais feia!

Naquela época Kerere era toda preta…

Dandalunda então pediu para Kerer se aproximar. Ela pegou em osum e pintou o seu bico; depois com osum vermelho os brincos. Depois com waji tornou as penas azul escuro e com efum fez as pinturas brancas. E continuou a pintar Kerere. Esta ao ver a sua imagem no abebé de Dandalunda saiu correndo de tanta felicidade cantando “Kuéim, kuéim, kuéim”.

Dandalunda que ainda não tinha terminado de pintar Kerere pediu a Kakulu, divindade dos gémeos para que corresse a trás de Kerere e a trouxesse de volta pois não tinha pintado o seu peito.

Kerere lá voltou e pediu para que Dandalunda ao invés de pintar o peito lhe desse um colar.

Dandalunda fez-lhe a vontade e ofereceu-lhe um colar em forma de coroa que Kerere carrega até hoje… e entre os seus pares é a mais linda de todas…

Tempos depois Kerere voltou e tornou-se o primeiro ser que “tomou” obrigações por aquela que é capaz de modificar todos com a sua doce magia encantada.

Kerere, o primeiro ser raspado, adornado e pintado por Dandalunda… e é por este motivo que quando um Kerer é sacrificado temos que tirar este colar em forma de coroa e coloca-lo em evidência!

…. Kerere é também conhecida por Konquem, “Tô” fraco, E tu ou Galinha de Angola

Tat'etu Kambaranguanje

Tat'etu Kambaranguanje aglutinação de Kamba ria nganga ajê - Um Santo amigo firme (como as pedreiras), “O Senhor da Justiça ...