segunda-feira, 29 de maio de 2017

Hambas da Terra

Divindades

Kaviungo

Também chamado de Kavungo, Nkissi de origem congolesa, registrado por Nei Lopes, e no dicionário de português-kimbundo encontramos a forma Kaluvungu que é um substantivo feminino e que significa magia. É cultuado no Tombeici de Itapecerica.

Nsumbo 

De origem kikongo registrado por Nei Lopes sem maiores informações. É cultuado na casa pesquisada.

Kingongo 

Não encontramos nenhuma referência bibliográfica sobre esse Nkissi. Apenas o vemos presente nas casa pesquisada.


Kubango 


Segundo Nei Lopes, esse nkissi tem origem no universo lingüístico kimbundo e significa briga e luta. Não encontramos até o momento nenhuma outra referência
.


Mpanzu 

De origem no universo linguístico Kikongo, segundo Nei Lopes e significa aquele que provoca úlceras. Cultuado na casa pesquisada. Edison Carneiro fala dele como de um espírito inferior, habitante das árvores, no Bate-folhas de Manuel Bernardino, juntamente com Zacaí.

Kisambu 

É apenas outra grafia de Nsambu ou Nsumbo valendo as mesmas características do primeiro.

Porque não pode assoviar?!

Pambu Unjila


Unjila é o Dono do Assovio e assoviar é provocá-lo. Seus assovios são intempestivos e penetrantes de tal maneira que assustam os velhos, que estes não se atrevem jamais a assoviar, com medo que Unjila responda. É ele quem assovia nas paragens desertas e nas casas abandonadas, como se sabe, a noite é o domínio de “entidades” de todos os tipos, mas durante o dia há horas perigosas que convém levar em conta: o meio-dia e às seis da tarde, quando vagam algumas “entidades” durante alguns momentos e nestes horários Unjila abandona as portas e as casa ficam sem defesa, se assoviarem durante este período, qualquer um destes poderá entrará na casa... Esta é a razão pela qual se verte água na porta da rua e ninguém deve entrar ou sair de uma casa nestes horários. A meia-noite a pior de todas as horas, já transitam Vumbi(mortos), Unjila e Mulolo(feiticeiras) com toda liberdade, então em hipótese alguma assovie, sobre tudo em altas horas da noite... Unjila está difundido por todas as partes “em uma rede numerosa”, todos se comunicam entre si, se enganam mutuamente – “o Unjila da porta, quando recebe a oferenda de um animal destinado somente ele, dá um jeito de afastar o Unjila da esquina” - ou se solidarizam uns com os outros por vingança. O que guarda a porta confabula com o da esquina, o da esquina com o dos quatro caminhos, o dos quatro caminhos com o da floresta e assim sucessivamente... Desta forma é necessário que o da porta esteja satisfeito, “que seja ofertado antes de todos” conforme dispôs Mulundilu(adivinho), segundo certas versões de Zimbo(buzios) e de acordo com outras, para que não atrapalhe a trajetória normal da vida e para que este Unjila não assovie para o Unjila da esquina, o encrenqueiro e revoltado, o qual, por sua vez, não assoviará para o Unjila dos quatro caminhos e este, para o Unjila da Floresta e assim por diante... Se o da porta assoviar e se eles acudirem a seu chamado, todos se introduzirão numa casa e nela ocorrerá alguma tragédia lamentável. “Para aquele que assovia, todos os Unjila entendem que lhe estão chamando para adentrar a casa e a pessoa padece as conseqüências... É essencial contentar Unjila e não provocá-lo com assovios ou com qualquer outro tabu... Emboscados em cada caminho, dispões de nossa vida em todos os momentos, pode jogar com ela como bem entender. Dono das chaves que “abrem e fecham os caminhos e portas”, do Além e da Terra, aos Deuses e Mortais... e as abre e fecha à sorte e à desgraça, segundo seus caprichos... embora pequeno, temos de considerar Unjila , sem discussão, o mais temível dos Mikisis... Então para minha felicidade... eis que surge uma nova pergunta: Tata! Então porque Katende assovia? Este direito lhe é concedido porque Katende pertence à família de Unjila. Embora parente não seja e de forma alguma um “caminho de Unjila” e sim uma Divindade totalmente distinta, assim como Ale “o inventor da aguardente” também pertence a esta família, mas não é Unjila. Se por um descuido você assoviar na mata se apresentarão Katende e Unjila e a eles você deverá prestar conta do chamado... deixe esta prática de assoviar na floresta para os caçadores e admiradores de pássaros silvestres.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O candomblé Bantu

Segunda Parte


O Ritual


 Massangá: ritual de batismo de água doce (menha) na cabeça (mutue) do iniciado (ndumbi), usando-se, ainda, o kesu (obi).
  Nkudiá Mutuè (bori)- ritual de colocação de forças (Kalla ou Ngunzu (Angola) = Asé (Axé) = Muki (Congo)), através do sangue (menga) de pequenos animais. Nguecè Benguè Kamutué: ritual de raspagem, vulgarmente chamado de feitura de santo.
 Nguecè Kamuxi Muvu: ritual de obrigação de 1 ano.
 Nguecè Katàtu Muvu: ritual de obrigação de 3 anos (Nguece = obrigação): nessa obrigação, faz-se o ritual de mudança de grau de santo.
 Nguecè Katuno Muvu: ritual de obrigação de 5 anos, com preparação quase idêntica à de um ano, só que acompanhada de muitas frutas 
 Nguecè Kassambá Muvu: ritual de obrigação de 7 anos, quando o iniciado receberá seu cargo, passado na vista do público, sendo elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora).
As obrigações são de praxe para os rodantes, porque Kota (equede) e Kambondo (ogã) já recebem seus cargos na feitura, portanto já nascem com suas ferramentas de trabalho: dão suas obrigações para aprimorar seus conhecimentos.
No candomblé de angola, quem passa cargo são os enredos de Dandalunda. Isto é, não é preciso ser filho de Dandalunda, mas é ela quem autoriza aquela pessoa a receber o cargo.
Após 7 anos de obrigações, se renovarão a cada ano com rito de kesu (obi) ou bori, conforme o caso, repetindo-se as obrigações maiores de 7 em 7 anos para renovar e conservar o indivíduo forte, transformando-o em Kukala Ni Nguzu ("um ser forte").
Kunha Kele: sacramento realizado 3 meses e 21 dias após a feitura (tirada de kele), quando o santo soltará a Kuzuela = Ilá.
Ordem de barco (sequência das pessoas recolhidas juntas para iniciação) no candomblé de angola:
  • 1º - Rianga, 2º - kaiadi, 3º - katatu, 4º - Kakuanam, 5º - katanu, 6º - Kassamanu, 7º - Kassambà.

O candomblé bantu


Primeira Parte




É uma das maiores nações do candomblé. Desenvolveu-se entre escravos que falavam Kimbundu, Umbundu e kikongo.


A palavra bantu significa "gente": é o plural de muntu, da raiz _ntu, que significa "pessoa". O termo "banto" foi utilizada pelos europeus colonizadores para identificar os povos da África Austral que falavam línguas bantas.


Principais Minkisi/Akixi


O deus supremo e criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele, estão os Jinkisi/Minkisi, divindades da mitologia banta. Essas divindades se assemelham a Olorum e aos demais orixás da mitologia iorubá. Minkisi é um termo quicongo: é o plural de Nkisi, "receptáculo". Akixi provém do quimbundo Mukixi.


Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila, Nzila, Mujilo, Mavambo, Vangira, Njila, Maviletango: intermediário entre os seres humanos e os outros inquices e protetor das casas.


Nkosi, Hoji Mukumbi, Panzu, Xauê: - inquice da guerra e senhor das estradas de terra, agricultura e do ferro.
Ngunzu, Teleku-mpensu: engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde o sol não penetra.


Kabila : o caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.


Mutalambô, Mutakalambo: caçador, vive em florestas e montanhas. É o inquice da comida abundante.


Gongobira, Mukongo Mbila ou Gongobila: caçador jovem e pescador.


Katendê, Mwani Panzu: senhor das jinsaba (folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais.


Nzazi, Loango, Kambaranguange: é o próprio raio. Dá a justiça aos seres humanos.


Kaviungo, Kavungu, Kafunjê, Kingongo: inquice da varíola, das doenças de pele, da saúde e da morte e senhor dos mistérios.


Nsumbu, Sumbo: senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo de Congo e Moçambique.


Hongolo ou Kongolo: auxilia na comunicação entre os seres humanos e as divindades. Também é o senhor do som.


Kindembu, Kitembu dya banganga, Kintempu ou Nkisi Tempo: rei de Angola. Senhor do tempo e das estações. É representado, nas casas Angola e Congo, por um mastro com uma bandeira branca chamada de "Bandeira de Tempo".


Kaiango ou Kayango: tem o domínio sobre o fogo e auxilia Nkukwalunga no oráculo de ngombo.
Matamba, Uambulusema - guerreira, comanda os mortos (Nvumbi).


Kisimbi, Kiximbi: a grande mãe; inquice de lagos e rios.


Ndanda Lunda, Dandalunga: senhora da fertilidade e da Lua, muito confundida com Hongolo e Kisimbi.


Kaitumba, Mikaia, Kaiala, Kokweto, Samba Kalunga: inquice do oceano (Kalunga Grande).


Nzumbarandá, Zumbá: a mais velha das inquices. É conectada com a morte.


Wunji, Nwunji: a mais jovem dos Minkisi, senhora da justiça. Representa a felicidade de juventude. Toma conta dos filhos recolhidos.


Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Nkasuté Lembá, Gangaiobanda, Malembá, Fulama: conectado à energia que rege a fertilidade.


Nvumbi: antepassados, ancestrais de família


quarta-feira, 3 de maio de 2017

Nkisi


Nkisi (cujo plural é Mikisi ) é a palavra em kimbundu que significa “ Energia Divina ” e que define o que chamamos de “ Santo ”. 


Os ancestrais de nossa Casa nos transmitiram, dentro de nossa filosofia na cosmogenese, que Angomi , ao manifestar-se tornando-se Nzambi Ampungu ( Deus Universal ), gerou duas polaridades energéticas que, ao se encontraram transformaram-se em treze Energias e essas Energias criaram o Universo e tudo que nele existe. Portanto temos aí o primeiro princípio de nossa filosofia: “ Tudo o que existe é formado de uma mesma Energia: A Energia Divina ”.


Cada Nkisi se manifesta no Plano Físico como um elemento da natureza, um som, uma (ou mais) cor, um (ou mais) mineral, uma formação natural definida, etc

Kuzamba Nkisi imóxi! Nzazi!
Única Energia da Justiça! Nzazi!



•  Tatetu Kambaranguanje

aglutinação de Kamba ria nganga ajê - Um Santo amigo firme (como as pedreiras), “O Senhor da Justiça Divina”, portanto o destino (ou Karma), é a manifestação da Justiça de Deus, julga e confere nossos atos durante cada encarnação.
    
Implacável, como a justiça deve ser, não aceita e não acata erros. Por isso é o “Senhor das Cabeças”. Sua manifestação no mundo físico é nas pedreiras e rochas, pois a Justiça é dura e firme como as pedras o são. Sua arma o “Luazí” (machado) é representado com duas lâminas idênticas informando que corta para todos os lados igualmente.

Em nossa Casa o cultuamos na forma de “Tatetu Loango”, o Senhor do Fogo e o festejamos durante o plenilúnio de inverno nos “Fogos de Loango”.


Seu dia é quarta-feira, suas cores a vermelha e a branca juntas, no sincretismo foi representado por São Jerônimo e é festejado em 30 de setembro. Sua oferenda preferida é o omalá que deve ser feita em noite de lua cheia, acompanhada de cerveja preta e iluminada por, pelo menos, 12 velas.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016


Aluvaiá





Diziam os kassanges que outrora todos nós habitávamos o mundo espiritual. 

N'mutalambo são as lendas contadas pelos kassanges, que falam da precipitação da grande energia sobre o mundo material. 

Diz a lenda que, no passado, Angomi era o próprio Nzambi. Neste tempo Angomi dormia sono profundo e se expandia cada vez mais. Ao crescer, Angomi foi vendo que, ao seu redor, estava inserido o desconhecido. Como não podia sair do seu espaço, começou a emitir forte luz e a concentrá-la num ser chamado Aluvaiá. Este prometeu a Nzambi que iria percorrer os outros espaços e trazer informações. Para isso, pediu a Nzambi o poder mágico de precipitar a energia, capaz de formar a massa-matéria. Nzambi tão logo ouviu o pedido, deu o segredo à Aluvaiá, e este saiu em busca de outros espaços. Ao penetrar no desconhecido, Aluvaiá começou a ficar vaidoso. Sentindo-se poderoso pelo segredo obtido, resolveu não mais voltar. Passou então a moldar as massas, após preciptar a energia, transformando-a em matéria. Os seres criados por ele passaram a ocupar os grandes centros da matéria aglutinada, chamados mundos. Os seres não tinham, entretanto, o segredo da perpetuação, única chave deixada a Nzambi. Aluvaiá não se incomodava com isso e criava, a cada dia e a cada hora, um novo ser. Aluvaiá lhes deu o sangue, para que a vida das criaturas fosse mais prolongada. Entretanto, Aluvaiá, após algum tempo, começou a se enfraquecer. Para se manter poderoso começou a beber sangue dos seres que ele mesmo criara. Assim procedendo, Aluvaiá, passou a ter a mesma constituição dos seres viventes. Nesse tempo os seres não conheciam outro senhor do universo - aquele que fora incriado. Indagando à Aluvaiá, um deles lhe pediu vida eterna, e este logo respondeu que o segredo esta com Nzambi. Aluvaiá sobrepôs a barreira e chegou até Nzambi. Mentindo, disse-lhe que do outro lado havia seres bonitos, planetas, flores, etc. Acrescentou, então, que se ficasse mais tempo se enfraqueceria muito. Por isso, precisava conhecer o segredo da perpetuação. Nzambi percebendo as suas emanações, falou: "Aluvaiá, você me enganou, usando seus poderes e bebendo da sua própria essência. Por isso, mandarei você de volta e, como castigo, terá que se manter com a própria essência da vida que você conhece - o sangue". Nzambi tomou a decisão de criar novos seres espirituais para controlar seu infinito espaço: eram os Nkisi. De tempos em tempos, Nzambi pedia a um dos Nkisi para descer ao espaço de Aluvaiá fazia um bom trabalho. Nzambi então pediu que Aluvaiá viesse à sua presença e falasse das suas obras. Aluvaiá pediu ajuda àqueles que eram os mensageiros de Nzambi. Para isso, Aluvaiá usando da resposta positiva desceu com eles aos mundos habitados. Os Nkisi, vendo a grande obra, passaram a ter os domínios dos mares, matas, ares, fogo, etc. Aluvaiá vendo o seu império comprometido, zangou-se com os Minkisii. Estes alegaram que tais segredos de formação da natureza valorizaram os seus trabalho. Os Nkisi, de posse dos domínios de Aluvaiá, passaram a capacitar os seres de realizar diversas proezas. Aluvaiá, com isso, foi perdendo seu poder e resolveu voltar a Nzambi, alegando que os mensageiros expulsaram-no do seu espaço. Nzambi deu então à Aluvaiá a missão Intermediária de ficar entre os dois espaços. Com o passar dos tempos, os seres, sentindo necessidade de Aluvaiá, faziam-lhe sacrifícios para chamá-lo, já que estes ficaram dependentes do sangue por ele criado. Como castigo, Aluvaiá passou a ter a responsabilidade de manter a vida material através do sangue. Esta lenda mostra porque não conhecemos diretamente Nzambi. Fomos formados por Aluvaiá. De Nzambi recebemos apenas a essência do espírito, dada por Lembaranganga. Foi ele que precipitou os seres espirituais à matéria".


/Fonte: Autor: José R. da Costa (Tata Nitamba Tarangue) /

Tat'etu Kambaranguanje

Tat'etu Kambaranguanje aglutinação de Kamba ria nganga ajê - Um Santo amigo firme (como as pedreiras), “O Senhor da Justiça ...